Os riscos econômicos – leia-se câmbio e taxa de juros – seguidos por problemas relacionados ao financiamento e pelas dificuldades na obtenção de informações foram apontados como os principais fatores que impedem ou dificultam investimentos em atividades inovadoras no País. Essa é a conclusão da pesquisa “Obstáculos � Inovação”, realizada pelo Departamento de Competitividade e Tecnologia da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Decomtec/Fiesp). De acordo com o estudo, que envolveu 334 empresas de pequeno, médio e grande porte do estado de São Paulo, os “riscos econômicos” exigem maior esforço de superação na opinião de 40% dos entrevistados. Nesta categoria, os itens “elevada taxa de juros” (58%) e “instabilidade/valorização do câmbio” (55%) foram classificados como os principais entraves � inovação.
A avaliação é que a volatilidade do câmbio e os juros aumentam o custo dos projetos e o grau de incerteza dos executivos, além de inibir a ampliação da capacidade produtiva e o aumento dos gastos com inovação. A pesquisa informa que os recursos destinados ao pagamento de juros são 6,88 vezes superiores aos investimentos em | Pesquisa & Desenvolvimento (P&D). José Ricardo Roriz Coelho, diretor do Decomtec, afirma que a maior parte dos investimentos em inovação na indústria é feita com recursos próprios das empresas. Segundo ele, isso explica o impacto de itens como a taxa de juros e o câmbio sobre a disposição dos executivos para assumir riscos e apostar no desenvolvimento de produtos que podem não ter a demanda esperada.
Muito discurso, pouca ação - “Com a valorização do real e a entrada de produtos importados a preços muito competitivos, a indústria nacional se vê obrigada a criar produtos diferenciados e a inovação é a solução para tudo”, diz Coelho. Para ele, os executivos têm essa noção. “Mas, a verdade é que as empresas brasileiras falam muito, mas ainda fazem pouco ou quase nada para estimular atividades inovadoras”, afirma. Para Coelho, o alto custo do capital limita o aumento dos investimentos em inovação no País. “Poucas companhias têm acesso a financiamentos com juros baixos”, diz. De acordo com o estudo, na categoria “problemas relacionados ao financiamento”, mencionada por 31,5% dos entrevistados, o item mais lembrado foi “custos de financiamentos (juros e outros | encargos)”, com 58%. Já na categoria “elevados custos da inovação” (31,1%), o maior obstáculo foi a “elevada carga tributária incidente nos gastos com I,P&D”, com 59% das respostas.
Mundo acadêmico distante - A pesquisa da Fiesp aponta ainda a distância entre o mundo acadêmico e o empresarial. A “falta de informação sobre os serviços disponibilizados pela universidade” foi classificada como o maior obstáculo na categoria “Dificuldades na obtenção de informações para desenvolver idéias inovadoras, com 35% de respostas. Nas grandes empresas, esse percentual foi ainda maior, chegando a 43%. “O empresário não procura a universidade porque acha que não vai agregar nada”, afirma Coelho. “A universidade acredita que não precisa da empresa para sobreviver e investir em Pesquisa e Desenvolvimento.” Ele acredita que isso só vai mudar quando houver uma revisão do marco regulatório que rege as relações entre universidades e empresas, incluindo temas como o uso de patentes, a contratação temporária de professores e pesquisadores e a remuneração por projetos específicos. |