Sindicato repudia demissão de professor do Andrews que comparou judeus a nazistas
Da redação - O Globo - 16/09/2014 - Rio de Janeiro, RJ
O Sindicato de Professores do Município do Rio de Janeiro (Sinpro-Rio) emitiu uma nota nesta terça-feira (16) em repúdio � demissão de um professor de Geografia do Colégio Andrews, na Zona Sul do Rio, por ter incluído uma charge polêmica envolvendo sobre conflito entre Israel e Palestina na prova do 8º ano do ensino fundamental (acima). O docente foi acusado antissemitismo ao comparar judeus a nazistas em meio ao conflito contra palestinos.
De acordo com a nota, a “demissão de um professor por trabalhar contextos sociais e históricos passíveis de debates e de diferentes opiniões em provas é um absurdo, na medida em que o mesmo não teve seus direitos preservados e teve sua figura exposta de forma constrangedora, ferindo sua integridade pessoal e profissional”.
Para o sindicato, acusar o docente de antissemitismo seria um erro, além de ferir a autonomia pedagógica inerente � carreira do magistério:
“Condenar e censurar textos ou charges que expressem tal interpretação daquela realidade geopolítica, classificando-os como `inadequados`, é manipulação da prática pedagógica e um ataque � liberdade de expressão e opinião dos professores, o que está acontecendo nesta escola, que se recusa ao debate e a enfrentar o contraditório.”
Em um tom mais guinado � esquerda, o sindicato acusou ainda o colégio Andrews de “ceder � ideologia dominante propagada pela grande mídia”:
“A diretoria eleita do Sinpro-Rio repudia veementemente a demissão arbitrária perpetrada pela direção do colégio, que, sob a égide de “respeitar as diferenças”, cedeu a uma pressão política e ideológica.Esse tipo de atitude patronal é significativa e representa a ponta de um iceberg. A censura e a arbitrariedade são contrárias a autonomia pedagógica tão necessária para romper a cultura dominante, notadamente voltada para as elites.”
CHARGE
O caso ganhou repercussão na semana passada, quando veio a público a ilustração em que duas cenas semelhantes se repetem, mas em ocasiões históricas diferentes. Na primeira, seria um soldado nazista oprimindo um judeu em meio � Segunda Guerra Mundial. Na segunda, um militar israelense seria o opressor diante do palestino.
A imagem vem com o seguinte enunciado: “Conforme é sabido, os judeus foram perseguidos por Hitler durante o nazismo. Atualmente um determinado povo é tido como vítima dos israelenses, tendo que viver em assentamentos controlados por Israel`. Abaixo da ilustração ainda havia a seguinte legenda: `Chegaram invadindo, tomando terras, assassinando... Quem será pior? Nazistas ou judeus?”.
Após o episódio, a direção do colégio enviou um comunicado, por e-mail, aos pais e responsáveis pelos alunos, informando que a questão seria anulada por ser “extremamente inadequada”: “Acima de tudo, queremos reafirmar que este episódio isolado não corresponde nem reflete o sentido pretendido pelo Colégio Andrews em seu Projeto Educativo, sempre voltado para a paz e o bom convívio entre os povos. Assim sendo, apresentamos formalmente a todos o nosso pedido de desculpas”.
Leia a nota do Sinpro-Rio na íntegra:
A diretoria do Colégio Andrews demitiu, no último dia 11 de setembro, de forma sumária, um de seus professores, causando perplexidade e indignação. Tal arbitrariedade deveu-se a uma questão de prova aplicada pelo mesmo, na qual comparava o massacre dos palestinos promovido pelo governo de Israel � barbárie desencadeada pelo nazismo, particularmente o holocausto, que vitimou cerca de seis milhões de judeus na Segunda Guerra Mundial.
A demissão de um professor por trabalhar contextos sociais e históricos passíveis de debates e de diferentes opiniões em provas é um absurdo, na medida em que o mesmo não teve seus direitos preservados e teve sua figura exposta de forma constrangedora, ferindo sua integridade pessoal e profissional. Coube a direção arbitrar, demitindo sumariamente o professor sem problematizar ouvindo outros pontos de vista e, assim, desrespeitando sua cátedra na sua livre ação docente. Classificar a condenação ao massacre dos palestinos pelo atual governo do Estado de Israel como `antissemitismo` é um erro! Já são públicas as manifestações de vários intelectuais e setores da sociedade israelense com críticas ao governo de Israel, expressando livremente diferentes posicionamentos, especialmente no que se refere aos ataques a civis palestinos.
Não há discriminação em identificar criticamente a agressão presente naquele Estado ao povo palestino. Condenar e censurar textos ou charges que expressem tal interpretação daquela realidade geopolítica, classificando-os como `inadequados`, é manipulação da prática pedagógica e um ataque � liberdade de expressão e opinião dos professores, o que está acontecendo nesta escola, que se recusa ao debate e a enfrentar o contraditório.
É inadmissível que uma escola reproduza a falta de liberdade dominante na grande mídia. Um professor, deve discutir com os estudantes os temas da atualidade, principalmente sob a ótica humanista, já que a guerra e os conflitos armados provocam inúmeras mortes injustificáveis.
A diretoria eleita do Sinpro-Rio repudia veementemente a demissão arbitrária perpetrada pela direção do colégio, que, sob a égide de “respeitar as diferenças”, cedeu a uma pressão política e ideológica. Esse tipo de atitude patronal é significativa e representa a ponta de um iceberg. A censura e a arbitrariedade são contrárias a autonomia pedagógica tão necessária para romper a cultura dominante, notadamente voltada para as elites.
Adotaremos todas as ações para garantir os direitos do professor e a liberdade de pensamento, imprescindível na construção da democracia e de uma nação soberana.