Gestão
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Amigo
de poderosos, o advogado Marcio Costa levou apenas dois anos para afundar duas
universidades.
Mareio
André Mendes Costa, de 42 anos, é um advogado bem relacionado.
Até
o fim de 2012, ele era oficialmente o dono do grupo Galileo e controlador das
universidades Gama Filho e UniverCidade (com C mesmo), entre as maiores
instituições privadas do Rio de Janeiro. Nessa condição, contratou como
professores dois amigos, os ministros do Supremo Tribunal Federal José Dias Toffoli
e Ricardo Lewandowski. Eles iam de Brasília ao Rio às sextas-feiras para dar
aulas, algumas vezes de jatinho pago pelo grupo. A amizade era tanta que Costa
chegou a fazer outro contrato de 1 milhão de reais com os ministros para montar
um curso a distância que nunca foi oferecido. Enquanto os ministros recebiam
tratamento vip, as duas instituições se afundavam em dívidas e a qualidade dos
cursos piorava. Sindicalistas ligados � Gama Filho chegaram até a ir a Brasília
entregar ao ministro da Educação, Aloizio Mercadante, um dossiê contra Costa. Mas
o ministro mandou só um recado para que voltassem outro dia. Nunca os recebeu.
Meses depois, o dono do Galileo foi acusado por uma CPI estadual de
estelionato, formação de quadrilha e apropriação indébita. A dívida do grupo
somava, então, quase 1 bilhão de reais. E, mesmo assim, ele ainda encontrou alguém
a quem transferir o controle, um pastor evangélico chamado Adenor Gonçalves,
desconhecido no ramo. Na semana passada, o MEC decidiu descredenciar as duas
instituições e 12 000 alunos se viram sem ter onde estudar. O descredenciamento
não chega a surpreender. A situação era crítica havia muito tempo. Só em 2013,
foram quatro meses de greve e uma centena de professores demitidos. O que
espanta mesmo é que o ministério tenha demorado tanto a agir. Marcio Costa, que
foi advogado da família dona da Gama Filho, pediu ao órgão autorização para
assumir o controle da instituição em outubro de 2011, mas muito antes de
receber o aval já estava dando as cartas. Sua primeira realização foi obter um
empréstimo de 100 milhões de reais dos fundos de pensão Postalis, dos Correios,
e Petros, da Petrobras. A operação foi realizada pela corretora Planner, a
mesma que vendeu a fundos de pensão de estatais papéis da cooperativa
habitacional Bancoop e do banco BVA (hoje falidos) e teve o sigilo quebrado na
CPI dos Correios. Em vez de sanear as contas, Costa usou o dinheiro em uma obra
no hospital arrendado pela Gama Filho, que hoje está fechado, e em pagamentos
aos antigos controladores das universidades. Quando o secretário de Ensino Superior
do ministério, Jorge Messias, autorizou a transferência do controle, em maio de
2012 (quinze dias depois de assumir o cargo), as certidões negativas de débito
estavam vencidas e a UniverCidade em greve. Desde então, pipocaram denúncias contra
o Galileo, incluindo as da CPI, que obrigaram o MEC a abrir uma sindicância. Só
agora, mais de um ano e milhares de mensalidades pagas depois, o ministério
concluiu que a situação é insustentável. Messias, do MEC, diz que cabe a ele
apenas conferir os indicadores de qualidade do ensino, e não fiscalizar as
finanças das universidades privadas. Na semana passada, depois de descredenciar
as duas faculdades, o ministério preparava um programa de transferência dos
alunos para outras faculdades do estado. A VEJA. Marcio Costa disse que não tem
mais nada a ver com o assumo. Ele agora quer ser juiz eleitoral.
Cecília
Ritto