Surpreendente. Assim pode ser definido o resultado das recentes eleições para o Diretório Central de Estudantes (DCE) da Universidade de Brasília (UnB). Pela primeira vez, desde o fim da ditadura militar, uma chapa apartidária e não ideológica assume a representação estudantil na instituição. Tradicionalmente ocupado pela esquerda, a perda do comando do DCE da Universidade de Brasília pode indicar uma mudança mais profunda. Uma nova geração de estudantes, menos comprometida com o radicalismo ideológico e mais focada na excelência acadêmica e profissional, está mostrando sua cara. Os integrantes da nova diretoria são alunos dos cursos de direito, economia, administração e engenharia. A proposta dos estudantes, que mobilizou lideranças, atraiu votos e desembocou na vitória, representa uma ruptura com velho discurso salvacionista de certos setores da esquerda. Tachados de direitistas e conservadores, estratégia recorrente e ultrapassada de desqualificação dos adversários, os vencedores não responderam com clichês vazios, mas com conceitos e argumentos racionais. Defendem melhorias concretas na estrutura da universidade. Não estão preocupados com a reforma agrária, o capitalismo selvagem ou a defesa de Fidel Castro e de Hugo Chávez. Defendem um ideário de interesse dos estudantes: incentivo a parcerias com fundações privadas, melhoria na qualidade do | ensino, melhor desempenho acadêmico.
Segundo Mateus Lôbo, aluno de ciência política e vice-presidente da chapa vencedora, a Aliança pela Liberdade "é um grupo de alunos que acreditam na excelência e no mérito como forma de se fazer revolução". A afirmação, carregada de sadio inconformismo, consta de matéria veiculada pela UnB Agência. A nova liderança estudantil defende o pluralismo e o debate das ideias. "O pensamento divergente é saudável no ambiente universitário e isso se provou nas urnas. As pessoas querem um discurso diverso, não um local onde se pregue apenas uma corrente de pensamento", sublinhou Lôbo. A abertura ao diálogo é uma excelente notícia e está intimamente relacionada com o papel da universidade. O discurso único não condiz com o ambiente acadêmico e não contribui para o desenvolvimento de uma democracia sustentada. Algo novo, e muito promissor, aparece no horizonte da juventude brasileira. Juntamente com essa mudança pontual, mas simbólica, assistimos ao crescente protagonismo dos jovens nas passeatas contra a corrupção. Convocadas pelas redes sociais, manifestações contra a corrupção têm atraído milhares de pessoas, sobretudo jovens, em várias cidades do Brasil.
Ao contrário do ceticismo da geração dos mais velhos, que | acumula excessivas reservas de decepção, a moçada acredita na possibilidade de mudança. Não admite, com razão, que o país, refém de uma resignação equivocada, veja desaparecer no ralo da corrupção nada menos que R$ 85 bilhões, segundo detalhado levantamento feito pela revista Veja. Trata-se, amigo leitor, do balanço contábil da roubalheira, da conta que a sociedade paga pela chamada governança pragmática. O apoio político cobra um pedágio vergonhosamente imoral e criminoso. A corrupção drena anualmente dos cofres públicos o equivalente a 2,3% de toda a riqueza produzida pelo país. É um câncer que vai destruindo o organismo nacional. Se fosse usado para fazer investimentos públicos, esse dinheiro mudaria a cara do Brasil e faria, de fato, a tão almejada justiça social. Os brasileiros começam a se indignar com a corrupção. E a juventude, idealista por natureza, é a porta-bandeira da cidadania. O recado dos jovens é muito claro e seria bom que os políticos tomassem nota. A juventude não aceita mais o quadro que aí está. As manifestações de rua, pacíficas e cada vez mais expressivas, desembocarão com força irreprimível nas redes sociais. As próximas eleições reservam desagradáveis surpresas para aqueles que fazem da política a arte do engodo e uma plataforma para ganhar dinheiro fácil. |