O Ministério da Educação (que até hoje chamam de MEC, mesmo depois de criado o da Cultura) defende o fim do vestibular. É uma tese não tão nova. Terminar com isso de a porta da universidade abrir e fechar para o sujeito num único exame. Acabar com o vestibular deveria significar, entre outras coisas, levar em conta o desempenho do aluno ao longo de toda a formação. Seria bom, por estimular a cobrança sobre o ensinado no fundamental e no médio. Mas seria também ruim porque um menino ou menina com currículo não tão vistoso estaria na prática impedido de se recuperar mais adiante. O modelo do vestibular apresenta desvantagens conhecidas, mas oferece pelo menos uma grande vantagem. O rapaz ou a garota podem até não ter sido tão bons antes, mas, se estiverem dispostos a estudar no ano da prova, têm nova chance de conseguir superar. Num país de ensino precário, é uma válvula de escape. Não é razoável jogar integralmente nas costas do estudante o ônus da escola ruim. O ideal seria combinar os vetores, como já acontece em alguns lugares. Levar em conta o histórico e também o desempenho nos exames.
Há pelo menos dois detalhes importantes a olhar. A regionalização do acesso e a autonomia das universidades e faculdades. A autonomia é importante, pois cada instituição deve ter liberdade para decidir que | tipo de aluno deseja receber, de acordo com o profissional que pretende produzir. Se determinada escola de engenharia acha que saber matemática e física não é o mais importante, está no direito dela. E vai escolhê-la quem concordar com ela. Já a regionalização é decisiva para evitar que alunos dos centros mais ricos avancem sobre as vagas em outras localidades, por terem mais condições de competir do que os “nativos”. Gente que vem de fora e depois de formada simplesmente cai fora, volta para de onde veio. Levando consigo o resultado do esforço financeiro da sociedade. Isso vale para as faculdades e universidades públicas e também para quem tem as mensalidades na escola particular pagas pelo governo. O Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) foi e é um avanço, por permitir a avaliação periódica dos estudantes, uma maneira de medir indiretamente como andam as escolas.
Há também uma tendência crescente de usar o resultado da prova como elemento de avaliação para o acesso ao ensino superior. Mas será um completo equívoco se em nome de “acabar com o vestibular” o Enem acabar transformado no “vestibularzão do MEC”. Pois o Ministério da Educação teria o inaceitável poder absoluto de decidir que tipo de aluno vai conseguir vaga no ensino superior. Pois pode haver — e é saudável que haja — instituições públicas e privadas que | divirjam dos critérios oficiais. Tampouco é racional que a oportunidade de ser avaliado em exame se concentre numa única prova, ou num único conjunto de provas. Pois a pessoa pode estar num mau dia. Ou não se enquadrar nos critérios de quem manda no MEC. Além do que o “vestibularzão do MEC” reforçaria o risco de avanço dos candidatos mais bem preparados sobre todas as vagas, diluindo o necessário critério regional. É uma discussão que exige muito cuidado. É preciso levar em conta os fatos, e não apenas as intenções. Já que delas o inferno está lotado.
OSNGs - Os escândalos sucedem-se e cresce a necessidade de encarar um problema grave na administração pública: a tendência a privatizar a ação governamental por meio das organizações não governamentais. Que no Brasil deveriam mudar de nome, talvez para organizações supostamente não governamentais, as OSNGs. Ou para OGs (organizações governamentais). Seria talvez mais apropriado. A regra precisaria ser clara. Dinheiro público só deveria ser gasto seguindo as regras específicas do setor público. Vai dificultar a execução de certas políticas? Paciência. Que a União, os estados e os municípios se virem. A moda, em todos os níveis, é contornar exigências redirecionando recursos para quem pode gastar com mais liberdade. Muito mais. Já passou da hora de acabar com isso. |