Tradicional exportador de cérebros, o Brasil começa a receber de volta médicos e pesquisadores que deixaram o país em busca de melhores condições de trabalho, consolidaram carreiras no exterior e agora retornam motivados pelo crescimento da economia brasileira e o aumento de verbas para pesquisa. A expansão de hospitais privados -só em São Paulo, os investimentos são na ordem de R$ 2,7 bilhões nos próximos cinco anos- também tem atraído esses profissionais de volta. Não há dados sobre a reversão da fuga de cérebros brasileiros, mas tanto o CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) quanto a Fapesp (Fundação de Amparo � Pesquisa do Estado de São Paulo) confirmam a tendência.
A Folha conversou com quatro médicos que estão voltando (ou já retornaram) ao país, após anos trabalhando em instituições americanas, como o NIH (Institutos | Nacionais de Saúde) e a Universidade de Pittsburgh. Na última década, os investimentos em pesquisa e desenvolvimento no país passaram de R$ 26,3 bilhões (em 2000) para R$ 43,7 bilhões (em 2010), segundo o MCTI (Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação). O valor representa 1,19% do PIB brasileiro, quase o dobro da média de outros países da América Latina. Mesmo assim, o país não atingiu a meta estabelecida pelo governo de ter investido 1,5% do PIB em pesquisa até 2010. No mesmo período, o orçamento dos Estados americanos para ciência caiu 20%. "Está muito difícil obter financiamento para pesquisa nos EUA", diz o professor da USP Rodrigo Calado, que trabalhou nove anos no NIH e retornou ao Brasil.
"Temos atraído não só pesquisadores brasileiros que estão no exterior e querem voltar como estrangeiros que procuram o país para desenvolver projetos", afirma | Carlos Henrique de Brito Cruz, diretor científico da Fapesp. Artigo publicado em 2011 na revista "The Economist" coloca o Brasil como líder internacional em pesquisa em medicina tropical e sugere que o país é um destino promissor para pesquisadores do mundo todo. Diz o título: "Go south, young scientist" (vá para o sul, jovem cientista). Desde 2003, o Ministério da Saúde tem destinado recursos a linhas de pesquisa relacionadas às doenças "negligenciadas", também chamadas de doenças infecciosas da pobreza (como dengue, doença de Chagas e malária). O Brasil está no topo da lista de países que financiam pesquisas em dengue, por exemplo. Mas nem tudo é festa. A burocracia ainda emperra os projetos de pesquisa. "Tem um aparelho que estou tentando comprar desde outubro, que já foi aprovado pela Fapesp, mas que a papelada ficou parada em alguma mesa, � espera de algum carimbo", diz Rodrigo Calado. |